Kamala Harris avança nas pesquisas e dólar sofre correção
04/11/2024Os mercados estão se preparando para o maior evento do ano, com a eleição presidencial dos EUA na terça-feira, que pode ser uma das mais acirradas da história.
As pesquisas de intenção de voto do final de semana e os mercados de apostas sinalizaram um estreitamento das probabilidades de ambos os candidatos, tornando o resultado da eleição desta semana uma verdadeira incógnita. Isso abre as portas para um período potencialmente altamente volátil nas negociações de câmbio em torno da divulgação das pesquisas de boca de urna (a partir das 18h00 de terça-feira) e dos resultados dos principais estados decisivos durante as primeiras horas da manhã de quarta-feira.
Considerando a imprevisibilidade do resultado da eleição, todos os outros eventos devem ter impacto limitado. Até mesmo a reunião de quinta-feira do banco central dos EUA (Fed), onde se espera um corte de 25 pontos-base, foi colocada em segundo plano. O Banco da Inglaterra também se reúne na quinta-feira sob expectativas semelhantes às do Fed, e o comitê legislativo da China durante os próximos dias aumenta a possibilidade de estímulos adicionais no país.
Real (BRL)
O dólar atingiu um nível recorde em relação à moeda brasileira, próximo a R$ 5,90, devido a uma confluência de fatores, notavelmente a ausência de um plano de contingência para os gastos e a incerteza em torno das eleições americanas. O governo havia prometido apresentar um pacote de medidas após o segundo turno das eleições; no entanto, Haddad causou descontentamento ao afirmar que “não há pressa”. Diante da preocupação do mercado e da fraqueza do real, Lula solicitou a Haddad que cancelasse sua viagem à Europa nesta semana para se concentrar no plano fiscal. Entretanto, o mercado demanda uma resposta fiscal robusta, o que parece inviável no curto prazo.
À medida que as eleições se aproximam, o cenário de incerteza deve manter o dólar em alta. Contudo, uma vitória surpreendente de Kamala Harris poderia oferecer um certo alívio, possivelmente resultando em ganhos significativos para o real. Por outro lado, uma vitória de Trump ou um atraso na contagem dos votos poderia fazer com que o dólar superasse a barreira de R$ 6,00.
Dólar (USD)
O dólar encerrou uma semana de fortes ganhos na sexta-feira, embora o índice da moeda americana esteja abrindo em forte queda hoje, após pesquisas de opinião apontarem Kamala Harris à frente em Iowa, um estado tradicionalmente republicano. Em termos de dados, o fraco relatório do mercado de trabalho pode não ter tido grande impacto, considerando as distorções causadas por furacões e greves, especialmente com outros indicadores ainda sugerindo uma economia resiliente, como o forte crescimento do PIB no terceiro trimestre. De qualquer forma, todos estarão atentos às eleições nos EUA nesta semana.
Uma vitória de Trump impulsionaria o dólar para cima, mas não tanto quanto uma vitória surpreendente de Harris poderia desvalorizar a moeda americana. Além disso, é quase certo que o Federal Reserve cortará as taxas de juros em 25 pontos-base na quinta-feira; no entanto, a atenção se concentrará na orientação para a próxima e última reunião de 2024, em dezembro, onde as expectativas de uma pausa, embora baixas, estão começando a aumentar. Nesse cenário, o dólar teria mais um bom motivo para continuar sua tendência inabalável de alta.
Euro (EUR)
O euro finalmente recebeu algumas boas notícias. Embora defasados, os números de crescimento da Zona do Euro do terceiro trimestre superaram com folga as expectativas. O euro recebeu um impulso adicional com a leitura da inflação de outubro mais forte do que o esperado. Dito isso, as expectativas de um corte de 50 pb em qualquer uma das duas próximas reuniões do Banco Central Europeu parecem agora fora de cogitação.
Nesta semana, a negociação do euro estará quase que inteiramente conectada às eleições nos EUA e às notícias de estímulos da China. Porém, falas da presidente do BCE, Lagarde, na terça e quarta, podem trazer alguma volatilidade adicional ao euro.
Libra Esterlina (GBP)
O anúncio de um orçamento do Reino Unido mais frouxo do que o esperado provocou uma forte venda no mercado de títulos de crédito na semana passada. A reação geral do mercado foi de ceticismo, com os investidores aparentemente considerando que o impacto líquido sobre o crescimento seria negativo, e nós concordamos plenamente. Não apenas os aumentos acentuados de impostos correm o risco de afetar o investimento das empresas e a renda disponível das famílias, mas os mercados reagiram à perspectiva de grandes emissões de títulos enviando os rendimentos para cima, o que provavelmente se traduzirá em taxas de hipoteca mais altas.
A libra também sofreu e, embora tenha se recuperado no final da semana, ainda perdeu algum terreno em relação a seus pares europeus. Essa reação indesejada do mercado deve ser um dos principais tópicos de discussão na reunião de quinta-feira do Banco da Inglaterra, e as opiniões do comitê sobre seu impacto na política monetária serão o maior impulsionador da libra esterlina – além das eleições nos EUA.
Yuan chinês (CNY)
O yuan continua a se manter firme antes das eleições nos EUA, sendo negociado mais ou menos no meio dos painéis de desempenho cambial dos mercados emergentes e da Ásia. A eleição continua sendo muito importante para a moeda, mas, no caso de uma pressão significativa de uma vitória de Trump, é provável que vejamos esforços das autoridades para estabilizar o CNY, o que deve amortecer o impacto imediato.
As notícias domésticas têm sido escassas recentemente. Os dados do PMI da semana passada não balançaram o barco, já que estavam em grande parte em linha com as expectativas. A sessão do legislativo chinês, o Comitê Permanente do NPC, que termina na sexta-feira, deve atrair mais atenção, com os investidores esperando por mais notícias sobre estímulos. De acordo com a Reuters, a China está considerando uma emissão maciça de mais de 10 trilhões de yuans (US$ 1,4 trilhão) de dívida adicional, possivelmente mais se Trump vencer. Isso destaca a importância dessa eleição para a China, pois seu resultado poderá determinar o grau de dificuldade nas relações entre os EUA e a China nos próximos quatro anos.