Volatilidade no câmbio aumenta com notícias sobre as tarifas de Trump
10/02/2025A decisão do presidente Trump de adiar as tarifas sobre produtos canadenses e mexicanos na última segunda-feira abalou os mercados e levou inicialmente a uma forte recuperação das principais moedas.
Essa recuperação dos ativos de risco se desvaneceu ao longo da semana, pois Trump insistiu que as tarifas estão chegando, mas não conseguiu esclarecer sua extensão ou amplitude. Um forte relatório da folha de pagamento de janeiro dos EUA pressionou as moedas europeias, em particular, destacando a diferença significativa de desempenho entre as economias dos EUA e da Europa. O vencedor geral na semana passada foi o iene, que continua a se recuperar à medida que os investidores precificam altas mais agressivas por parte do Banco do Japão, e a moeda se beneficia de seu óbvio preço baixo após anos de desempenho inferior.
O anúncio de Trump sobre as tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio no fim de semana será fundamental para os mercados. Os investidores parecem divididos entre o medo do impacto das restrições comerciais e o alívio pelo fato de que as tarifas mais altas parecem estar reservadas para setores específicos. Além das tarifas, o foco será o principal relatório de inflação dos EUA na terça-feira. Com a probabilidade de as tarifas pressionarem ainda mais os preços dos EUA, a tolerância do BC americano para outro mês acima da meta será limitada e a perspectiva de cortes deve enfraquecer ainda mais. Além disso, os números do PIB do Reino Unido para o quarto trimestre de 2024 fornecerão informações importantes, embora defasadas, para a libra esterlina.
Real (BRL)
O real foi impulsionado pelo sentimento de “alívio tarifário” e pela ausência de notícias domésticas preocupantes. O único ponto de atenção no cenário interno foi a ata do Copom, que acabou favorecendo os ganhos dos ativos locais. A ata, ao sinalizar preocupação com as perspectivas de inflação desancoradas, mitigou receios de cortes de juros. As projeções do comitê indicam que, dentro do cenário de referência de seis meses, a inflação IPCA deve superar a meta, atingindo 5,2% em junho. A próxima divulgação do índice, na terça-feira, será um teste importante para essa perspectiva. Em outra nota, Donald Trump comunicou a intenção de impor tarifas universais de 25% sobre o aço e o alumínio nesta segunda-feira. O Brasil, como um dos maiores exportadores de aço para os EUA, encontra-se em uma posição crítica caso essa medida seja implementada. Até o momento, o governo brasileiro não se manifestou, mas é possível que as novas taxas e a incerteza gerada impactem negativamente a moeda brasileira.
Dólar (USD)
Até o momento, o dólar tem sofrido com uma série de decepções relacionadas à imposição de tarifas. Tentar prever as próximas notícias sobre tarifas é uma tarefa um tanto tola, portanto, talvez seja mais produtivo concentrar-se no cenário macroeconômico. O relatório de emprego dos EUA da semana passada foi, mais uma vez, consistente com um mercado de trabalho que continua forte. As empresas continuam a criar empregos em um ritmo saudável, a taxa de desemprego está oscilando em torno de níveis compatíveis com o pleno emprego, e o relatório mostrou um aumento surpreendente nos salários em janeiro – os ganhos mensais aumentaram em seu ritmo mais rápido desde meados de 2023. Todas essas notícias econômicas positivas, além da ameaça iminente de aumento de preços devido às tarifas de Trump, tornam cada vez mais difícil justificar qualquer novo corte na taxa de juros americana em 2025. Com as taxas nos EUA permanecendo quase as mais altas do G10, acreditamos que será difícil para o dólar ser vendido amplamente, apesar de seus níveis reconhecidamente muito caros.
Euro (EUR)
Os dados da inflação de janeiro da semana passada da Zona do Euro surpreenderam para cima. Observamos que o índice básico caiu pela primeira vez para 2,7% há nove meses e, desde então, não conseguiu melhorar em nada. Assim como no Reino Unido, o crescimento desanimador é mais um fator de restrições à oferta do que de demanda insuficiente, e acreditamos que o Banco Central Europeu terá, portanto, dificuldade em reduzir muito mais as taxas. As tarifas e a recessão no setor industrial são, certamente, fatores negativos para o euro, mas acreditamos que os níveis atuais já o precificaram em grande parte. Todas as atenções agora estarão voltadas para o governo Trump, que indicou com firmeza que as restrições comerciais voltadas para a União Europeia estão a caminho. Relatórios sugeriram que uma tarifa geral de 10% poderia estar próxima, e será interessante ver até que ponto isso já está incorporado ao preço do euro.
Libra Esterlina (GBP)
Dados econômicos mais fracos do que o esperado levaram a uma divisão inesperada de votos na reunião de política monetária do Banco da Inglaterra na semana passada. Todos os nove membros do comitê optaram por taxas mais baixas, sendo que dois dos nove membros na verdade votaram por uma redução de 50 pontos-base na taxa, em vez dos 25 pontos-base entregues. A projeção revisada do crescimento econômico para 2025, que foi cortada pela metade em relação à estimativa anterior, fornece uma indicação clara do grau de preocupação com a economia britânica.
A libra esterlina se recuperou após uma venda inicial, mas ainda é a moeda do G10 com pior desempenho até agora em 2025. No entanto, acreditamos que as perspectivas para a libra são relativamente boas. A inflação continua rígida e o crescimento dos salários permanece elevado e firmemente positivo em termos reais. Acreditamos que os mercados podem estar exagerando o grau em que o Banco da Inglaterra poderá reduzir as taxas este ano, já que o próprio banco enfatizou que os cortes “graduais” continuam sendo o caminho a seguir.
Yuan chinês (CNY)
Os mercados do continente reabriram na quarta-feira e o CNY ficou um pouco mais fraco em comparação com o último dia de negociações antes do feriado do Ano Novo Lunar. Um dia antes, as tarifas de Trump se tornaram realidade com a adição de 10% de impostos sobre os produtos chineses. Houve muito mais volatilidade no yuan offshore, cuja negociação não foi interrompida, mas o comportamento do yuan e a resposta da China significaram que, em geral, os investidores não ficaram muito agitados.
Várias contramedidas devem entrar em vigor na segunda-feira, talvez com a intenção de mostrar a vastidão de respostas que o país pode dar, incluindo tarifas de energia e agricultura, restrições às exportações de metais importantes e ações de empresas selecionadas. A natureza direcionada e modesta dessas medidas sugere que a China está optando por uma abordagem conciliatória, o que provavelmente é melhor do ponto de vista dos investidores. Para o yuan, as tarifas devem estar no centro das atenções e, por enquanto, ofuscarão qualquer notícia doméstica. Isso não será muito difícil nesta semana, dado o calendário econômico relativamente vazio. Os principais dados de inflação já foram divulgados e, embora tenham mostrado um aumento bem-vindo na inflação ao consumidor, eles não alteram o quadro de pressões de preços.