Dólar recua à medida que aumentam as preocupações fiscais

27/05/2025

Os mercados estão cada vez mais preocupados com a perspectiva de déficits fiscais intermináveis e o aumento da dívida pública, especialmente nos Estados Unidos. A câmara baixa do Congresso americano acaba de aprovar um projeto de orçamento que implica mais um forte aumento do déficit, e os investidores reagiram vendendo títulos do Tesouro dos EUA e o dólar. Tradicionalmente, o dólar subia em resposta ao aumento das taxas de juros nos EUA, mas essa correlação se inverteu desde o “dia da libertação”. Houve uma venda generalizada de títulos de longo prazo ao redor do mundo, mas os movimentos nos EUA foram mais acentuados. O dólar caiu frente a todas as principais moedas globais, embora ainda esteja acima das mínimas pós-“dia da libertação”. A grande vencedora do início da semana foi o iene japonês, que parece estar se beneficiando mais do atual reajuste global nas taxas de juros.

Esta semana, haverá uma série de dados econômicos relevantes nos EUA: pedidos de bens duráveis, renda e gastos pessoais, inflação medida pelo PCE e os agora mais relevantes pedidos semanais de auxílio-desemprego. Os mercados estarão atentos a todos esses indicadores para avaliar eventuais impactos das tarifas impostas por Trump. Manchetes vindas das redes sociais de Trump também terão peso, embora — como no caso do anúncio e posterior adiamento de uma tarifa de 50% sobre a União Europeia — os mercados estejam cada vez mais insensíveis a essas movimentações. Acreditamos que os leilões semanais de títulos do Tesouro dos EUA ganharão mais atenção, especialmente após uma fraca venda de papéis de 20 anos ter sido o gatilho para a recente liquidação dos títulos de longo prazo. Nesta semana, as grandes ofertas de títulos de curto prazo podem atrair os olhares do mercado.

 

Benjamin Franklin. Qualitative portrait from 100 dollars banknote

 

Brasil

Na semana passada, o real foi influenciado tanto por fatores internacionais quanto domésticos. No exterior, o dólar apresentou fraqueza moderada (índice DXY em queda de aproximadamente 0,8%), mesmo diante das incertezas geradas pelas ameaças tarifárias dos EUA. Esse ambiente ajudou a reduzir pressões externas sobre o dólar, beneficiando moedas emergentes. Internamente, a manutenção da Selic em 14,75% ao ano atraiu recursos para o Brasil: desde 7 de maio, o dólar acumula queda de cerca de 0,7% frente ao real. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reforçou que “faz sentido manter os juros mais altos por mais tempo”, sinalizando uma condução conservadora da política monetária. Juros elevados têm estimulado a entrada recorde de capitais estrangeiros em ativos brasileiros (parte deles redirecionada dos EUA devido às tarifas americanas), o que obriga investidores a trocar dólares por reais e sustenta a valorização da moeda local.

Entretanto, fatores fiscais locais reacenderam a volatilidade cambial no fim da semana. Na quinta-feira (22/05), o governo anunciou um corte de R$ 31,3 bilhões em despesas, mas também publicou um decreto elevando o IOF em várias operações financeiras – uma medida pouco detalhada que gerou dúvidas e fez o dólar disparar (atingindo R$ 5,744). Na sexta-feira (23/05), após críticas, o governo reviu parte desse aumento do IOF, o que deu alívio imediato ao real: o dólar fechou em queda de 0,27%, a R$ 5,646. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o recuo visou evitar “especulações” que inibissem investimentos. Mesmo com o ajuste, o episódio reforçou a cautela dos investidores quanto ao risco fiscal doméstico – analistas chegaram a interpretar o aumento abrupto do IOF como sinal de “desespero” e controle excessivo de capitais. Em suma, o real passou a refletir esses ruídos internos, enquanto a política monetária segue conservadora e atenta às incertezas locais e externas.

Estados Unidos

A liquidação dos mercados de títulos por temores fiscais está pressionando o dólar para baixo, em mais uma reversão das correlações cambiais que vigoraram por décadas. Por outro lado, os dados econômicos continuam mostrando poucos danos relacionados às tarifas, e agora até as pesquisas de atividade empresarial estão se normalizando. Paradoxalmente, o forte aumento na arrecadação com tarifas está sendo a única boa notícia fiscal no momento. Esse fator, somado aos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA em alta acentuada e a um mercado bastante desequilibrado — onde os dados de posicionamento mostram que os especuladores estão fortemente vendidos em dólar — pode proporcionar algum alívio de curto prazo para a moeda. Mas a tendência de longo prazo provavelmente é de queda.

Europa

A União Europeia é o mais novo alvo das ameaças tarifárias de Trump, mas os mercados já estão condicionados a esperar muito barulho e pouca ação por parte do presidente americano. A moeda comum ignorou tanto a ameaça quanto a posterior desistência, e parece ter encontrado uma trajetória de valorização mais firme, embora gradual. O quadro fiscal da Zona do Euro está longe de ser tão preocupante quanto o dos EUA, com déficits médios estáveis em níveis inferiores à metade dos registrados do outro lado do Atlântico, mesmo com o novo plano fiscal alemão. Essa relativa responsabilidade fiscal pode estar ajudando a sustentar o euro, à medida que os investidores passam a prestar mais atenção à sustentabilidade das contas públicas. Por outro lado, as boas notícias sobre a inflação provavelmente abriram caminho para pelo menos mais dois cortes de juros por parte do BCE.

Reino Unido

O forte choque inflacionário da semana passada valida completamente a postura mais agressiva recentemente adotada pelo Banco da Inglaterra, e a libra deve continuar sendo a segunda moeda com maior taxa de juros entre os países do G10, atrás apenas do dólar, por um bom tempo. Somando-se à relativa imunidade da economia britânica às tarifas de Trump, às perspectivas de laços mais próximos com a União Europeia e à demanda doméstica resiliente, estamos confortáveis em justificar a continuidade da valorização da libra. Esta semana não trará grandes dados ou discursos de formuladores de política — uma pena, já que estamos bastante curiosos para entender a reação do Comitê de Política Monetária (MPC) ao forte choque inflacionário que tivemos.

China

O dólar americano amplamente mais fraco permitiu que o yuan se valorizasse para sua posição mais forte em relação ao dólar desde novembro, com o USD/CNY agora pairando abaixo da marca de 7,20. Os dados de abril vieram mistos na semana passada. As vendas no varejo decepcionaram, destacando preocupações com o consumo, mas a produção industrial mostrou mais resiliência. Como esperado, a redução de 10 pontos-base na taxa básica de juros anunciada no início do mês levou a um declínio nas taxas de empréstimo preferenciais na terça-feira, com a taxa de 1 ano cortada para 3% e a de 5 anos para 3,5%.

A atenção na China no curto prazo permanecerá no impacto econômico das tarifas e nos sinais sobre o futuro das relações sino-americanas. Quanto ao primeiro, teremos mais dados nos próximos dias, incluindo os PMIs de maio, que serão divulgados no sábado.

 

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