Dólar avança com o início da guerra comercial de Trump
03/02/2025Os ativos de risco haviam se beneficiado dos sinais que sugeriam que a imposição de tarifas seria adiada. No entanto, Trump contornou toda essa especulação no sábado.
No fim de semana, a Casa Branca confirmou que seriam impostas duras tarifas de 25% sobre os produtos canadenses e mexicanos, exceto sobre a energia canadense, onde seriam cobrados 10%. Tarifas de 10% foram impostas à China e também entrarão em vigor na terça-feira. Em suma, essa é uma combinação que faz pouco sentido macroeconômico, exceto como alavanca para outros objetivos políticos. O dólar subiu durante o pregão asiático devido às notícias, com as mosedas europeias (incluindo o euro) sofrendo o impacto da liquidação. As moedas dos mercados emergentes também foram duramente atingidas, lideradas pelo próprio peso mexicano.
Em geral, os principais momentos para os mercados nesta semana teriam sido os dados de inflação da zona do euro (segunda-feira), a reunião do Banco da Inglaterra (quinta-feira) e a divulgação da folha de pagamento dos EUA (sexta-feira). No entanto, a guerra comercial de Trump, incluindo os anúncios de novas tarifas (especialmente sobre os produtos da União Europeia) e qualquer indício das condições que Trump exigirá para aliviar a pressão, sufocarão outras notícias macroeconômicas. Por enquanto, a maioria das moedas ainda é negociada em níveis que implicam que as tarifas tenham vida curta. Esperamos que eles estejam certos.
Real (BRL)
Os ativos brasileiros apresentaram uma boa performance nas últimas duas semanas, impulsionados pela ausência de notícias críticas locais e por uma melhora no apetite por risco, decorrente da suposta moderação no discurso sobre tarifas do presidente Trump. Aqui, a postura cautelosa do Copom atenuou a preocupação com a influência política sobre o Banco Central. Enquanto isso, Lula ajustou sua comunicação para buscar alinhamento com o mercado e recuperar sua aprovação, reiterando a autonomia de Galípolo, a independência da Petrobras em relação aos preços da gasolina e respondendo às críticas direcionadas a Haddad. Durante o fim de semana, também ocorreram as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, nas quais Hugo Motta e Davi Alcolumbre foram eleitos, respectivamente. Agora, com o término do recesso no Congresso e a nova liderança em vigor, iniciam-se as negociações do Orçamento de 2025, que representa um novo marco significativo na trama fiscal. No entanto, o foco em relação ao câmbio estará ligado à questão das tarifas de Trump. Embora tarifas universais tenham sido evitadas até o momento, a moeda brasileira deve enfrentar desafios devido à aversão ao risco e à inevitável busca pela segurança proporcionada pelo dólar.
Dólar (USD)
A reunião do banco central americana na semana passada foi completamente ofuscada pela escalada da retórica que levou à imposição de tarifas no fim de semana. Como resultado, o dólar teve uma forte recuperação e está sendo negociado em alta em relação a quase todas as moedas do mundo nesta segunda-feira. Diferentemente da Europa, o maior impacto econômico das tarifas para os EUA parece ser o aumento da inflação e, consequentemente, taxas de juros mais altas. Ainda não está claro se Trump e suas contrapartes no México e no Canadá irão conseguir encontrar um acordo para evitar as tarifas, mas os mercados parecem acreditar que não. O foco macroeconômico desta semana está nos dados do mercado de trabalho, incluindo o relatório JOLTS na quarta-feira e o relatório da folha de pagamento de janeiro na sexta-feira. Os mercados esperam mais evidências que sugiram que a economia está funcionando bem. No entanto, como em outros lugares, as manchetes sobre tarifas provavelmente superarão qualquer impacto dos dados reais.
Euro (EUR)
A reunião de janeiro do Banco Central Europeu seguiu rigorosamente o roteiro previsto. O banco cortou as taxas em 25 pontos-base e indicou que a probabilidade de uma nova redução da taxa em março é alta. A inflação da zona do euro, divulgada hoje, surpreendeu ao avançar para 2,5%. No entanto, isso provavelmente será insuficiente para impedir novos cortes de juros por parte do BCE. Por enquanto, a guerra comercial promovida por Trump significa que as notícias sobre tarifas terão um impacto muito mais significativo na negociação do euro do que os relatórios macroeconômicos. De fato, já observamos uma reprecificação para baixo nas taxas do BCE em resposta às notícias do fim de semana, à medida que os investidores se preparam para um crescimento europeu mais fraco. O euro desabou após a imposição das tarifas de Trump, mesmo com o bloco sendo excluído da primeira rodada de restrições comerciais. Contudo, Trump fez questão de afirmar que as tarifas à União Europeia serão impostas “muito em breve”.
Libra Esterlina (GBP)
O Reino Unido parece estar em uma posição relativamente baixa na lista de alvos para tarifas, o que significa que a libra esterlina está tendo um desempenho melhor do que outras moedas europeias. Trump disse no fim de semana que o Reino Unido estava “fora da linha” com relação a suas políticas comerciais, embora também tenha sugerido que um acordo poderia ser alcançado para evitar a imposição de tarifas. Na verdade, a Grã-Bretanha tem um superávit comercial decente com os EUA, que poderia ser usado para evitar as tarifas de importação. O ônus de chegar a um acordo recairá sobre o governo de Keir Starmer, mas ele estará em Bruxelas esta semana para “redefinir” o relacionamento do Reino Unido com a União Europeia – o que não é exatamente um bom momento.
Espera-se que o Banco da Inglaterra reduza as taxas em 25 pontos-base na quinta-feira, pois prioriza o crescimento fraco em detrimento da inflação ainda alta. Não esperamos uma decisão unânime, mas é possível que os votos e as comunicações do comitê reflitam o aumento do desânimo causado pela guerra comercial de Trump, abrindo caminho para novos cortes além daqueles já previstos e para uma possível correção da libra.
Yuan chinês (CNY)
As comemorações do Ano Novo Chinês são normalmente um período pacífico e uma pausa nas notícias econômicas, mas não nesta ocasião. As tarifas de 10% impostas por Trump sobre os produtos chineses, que entrarão em vigor na terça-feira, interromperam a calma e levaram o yuan a outra rodada de perdas. Mesmo essas tarifas, que são baixas para os padrões da retórica pré-eleitoral de Trump, sem dúvida serão sentidas pelas empresas chinesas e pelas famílias americanas, mesmo antes de se levar em conta quaisquer medidas de retaliação. O foco agora se volta para o impacto dessas tarifas de importação e a resposta das autoridades chinesas.
As declarações oficiais serão observadas, já que os mercados aguardam as “contramedidas correspondentes” às quais o Ministério do Comércio da China se referiu após o anúncio das tarifas. O comportamento do renminbi será observado de perto, principalmente após a reabertura dos mercados do continente e a retomada das negociações onshore do yuan na quarta-feira. Estamos particularmente interessados em ver a abertura das autoridades para uma taxa de câmbio mais fraca e se elas anunciarão medidas adicionais para suavizar o golpe na economia chinesa.