Críticas de Trump ao banco central alimentam a venda de ativos dos EUA
22/04/2025Uma semana de relativa calma no mercado de câmbio foi abalada no final da sexta-feira de Páscoa por uma nova rodada de caos proveniente da mídia social de Trump.
O presidente dos EUA desencadeou uma série de ataques pessoais ao presidente do banco central americano, Powell, e um importante assessor confirmou que Trump está considerando demiti-lo, embora a legalidade disso não esteja clara. Independentemente disso, esse mais novo ataque às instituições dos EUA enervou ainda mais os investidores, que têm vendido ações, títulos e dólar juntos novamente desde a reabertura dos mercados na noite de domingo, um movimento altamente incomum e preocupante.
Não está claro até que ponto os mercados podem se concentrar em outra coisa que não sejam as erupções imprevisíveis da administração de Trump nesta semana. No entanto, além das manchetes sobre tarifas, política monetária e outras, esta semana teremos a primeira avaliação sistemática dos danos causados à confiança das empresas pelas políticas de Trump. Na terça-feira, serão divulgados os relatórios PMI de abril de todas as principais áreas econômicas do mundo, o que nos dará a oportunidade de avaliar o impacto não apenas em termos absolutos, mas também em termos relativos. Quanto aos dados econômicos reais, eles terão de esperar, exceto pelos dados semanais de pedidos de auxílio-desemprego dos EUA, que agora ganham importância adicional.
Brasil
Desde o início de abril, quando Trump anunciou as tarifas recíprocas, a moeda brasileira tem seguido quase inteiramente a influência de fatores externos. O apetite por risco e a preferência por moedas fortes posicionaram o real entre as moedas de pior desempenho, especialmente em relação ao euro. Até o momento, o Brasil tem permanecido em segundo plano, à espera do desfecho da suspensão das tarifas recíprocas de Trump.
Na frente doméstica, a discussão sobre a taxa Selic é o foco. Apesar dos dados de inflação ainda fortes, os temores de que a guerra comercial possa desacelerar a economia global levaram os mercados a ajustarem as projeções para a Selic, com expectativas de que ela caia abaixo de 15% até junho. Nesta semana, a prévia da inflação de abril será o destaque local para recalibrar as expectativas sobre os juros, embora o câmbio provavelmente continue amplamente dependente das notícias sobre as tarifas.
Estados Unidos
O dólar tem sido pressionado por duas preocupações: os temores de uma recessão e as dúvidas sobre a independência do banco central americano, intensificadas pelas críticas diretas de Trump às elevadas taxas de juros. Em termos de dados, as únicas informações macroeconômicas que recebemos até agora foram as pesquisas de sentimento. Todos esses indicadores pintam um quadro uniformemente sombrio. Os consumidores e os fabricantes temem preços mais altos devido às tarifas e os últimos, em particular, estão recuando em seus planos de investimento em meio à incerteza. Isso é notável, pois os fabricantes sediados nos EUA são os beneficiários pretendidos das tarifas.
O único ponto de dados econômicos reais confiáveis, no entanto, são os dados semanais de pedidos de auxílio-desemprego, que não aumentaram e sugerem que essa incerteza ainda não resultou em demissões em massa. Nesta semana, teremos poucas informações econômicas relevantes, o que pode não mudar muito o rumo das coisas já que os mercados ainda não podem se dar ao luxo de prestar atenção em qualquer coisa que não seja as erupções de Trump.
Europa
O euro se recuperou junto com todas as moedas do G10, sugerindo que na semana passada vimos mais um movimento de “venda do dólar” do que de “compra do euro”. No entanto, desde o “Dia da Libertação”, o euro tem sido a principal moeda com melhor desempenho no mundo, exceto o franco suíço, o que sugere que o mercado Europeu está recebendo uma parte significativa do capital que está fugindo dos EUA. O fato de a moeda comum continuar a se recuperar mesmo após a reunião do Banco Central Europeu da semana passada, que foi consistente com novos cortes de juros, confirma isso.
Em sua coletiva de imprensa após a reunião, a presidente do BCE, Lagarde, basicamente confirmou que as notícias sobre tarifas forçaram a decisão do banco neste mês, ao mesmo tempo em que alertou que o protecionismo comercial poderia levar a economia do bloco a uma recessão. Ela também sinalizou que o BCE estava disposto a reduzir as taxas abaixo do nível “neutro” diante do choque atual. Atualmente, os mercados estão precificando uma taxa terminal abaixo de 1,5%, mas os mercados de câmbio não parecem se importar com os juros baixos em troca da relativa estabilidade institucional da Zona do Euro.
Reino Unido
A libra esterlina se valorizou em relação ao real quase em sintonia com o euro na semana passada. Dados importantes, embora defasados, da semana passada incluíram o último relatório do mercado de trabalho e a inflação de março. O primeiro continua a se manter bem, apesar do aumento nos custos das empresas provocado pelo orçamento de outono, com a criação constante de empregos e ganhos salariais sólidos, porém moderados. Quanto ao segundo, o Banco da Inglaterra recebeu uma boa notícia, já que a inflação de março ficou abaixo do esperado, abrindo a porta para um corte em maio, que agora está totalmente precificado pelos mercados.
Esta semana parece que será mais uma semana interessante para a libra. Os números preliminares do PMI de abril serão acompanhados de perto na manhã de quarta-feira, seguidos pelos dados mais recentes das vendas no varejo na sexta-feira. Vários discursos dos membros do Bando da Inglaterra também estão na pauta. De modo geral, acreditamos que a libra esterlina está bem posicionada para lucrar com a volatilidade dos mercados, devido à sua exposição relativamente baixa às tarifas dos EUA, à demanda resiliente e à perspectiva de laços mais estreitos com a União Europeia.
China
Os temores sobre o impacto das tarifas na economia chinesa induziram outra onda de fraqueza no yuan. Em tempos normais, os investidores estariam comemorando o fluxo de notícias macroeconômicas domésticas, com praticamente todas as principais leituras econômicas surpreendendo positivamente. O crescimento de 5,4% em relação ao ano anterior no primeiro trimestre foi igual ao do quarto trimestre, e tanto as vendas no varejo quanto a produção industrial em março foram impressionantes. No entanto, a atenção agora está voltada principalmente para as tarifas, com a expectativa de que a atividade econômica arrefeça agora que as tarifas gigantescas dos EUA estão em vigor.
O caminho a seguir em relação às tarifas deve permanecer altamente importante para o yuan. Na semana passada, a moeda ganhou terreno depois que uma reportagem da Bloomberg sugeriu que a China está aberta a negociações comerciais sob certas condições, o que consideramos um tanto otimista. Quaisquer sinais de progresso nessa frente podem impulsionar ainda mais o yuan. Além disso, quaisquer manchetes sobre estímulos serão observadas de perto.
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