A diminuição das ameaças tarifárias acelera o recuo do dólar
27/01/2025O “alívio tarifário” ganhou força na semana passada, já que as atividades iniciais de Trump parecem estar focadas em outras áreas por enquanto.
A quebra de expectativas na inauguração resultou na recuperação de quase todas as moedas do mundo em relação ao dólar na semana passada. As moedas de mercados emergentes e países exportadores de commodities foram apoiadas pela sugestão de Trump de tarifas modestas sobre a China, sugerindo que o impacto sobre o crescimento global pode ser menos significativo do que se temia. As moedas latino-americanas foram as que mais subiram, embora a incerteza permaneça alta depois que Trump ordenou tarifas especificamente direcionadas à Colômbia em retaliação à decisão do presidente Petro de recusar voos de repatriação de imigrantes dos EUA. Embora essas ameaças de tarifas tenham sido revogadas desde então, a briga é um lembrete de que a situação é muito fluida e que as decisões de Trump podem ter muito impacto sobre os mercados financeiros globais.
Normalmente, esta semana teria sido dominada pelas reuniões de janeiro dos bancos centrais mais importantes do mundo, entre eles, o BC dos EUA, Zona do Euro e do Brasil. Entretanto, as notícias sobre a administração de Trump podem roubar os holofotes com uma decisão repentina sobre tarifas. Vamos nos limitar a prever o previsível e, nesse caso, há pouca dúvida sobre o resultado das reuniões dos dois bancos centrais: um corte de juros do Banco Central Europeu, nenhuma mudança nas taxas do Fed nos EUA e um aumento de 100pp pelo Copom.
Real (BRL)
O real e as moedas latino-americanas lideraram o desempenho cambial em relação ao dólar na semana passada, impulsionados pela moderação das tarifas de Trump. Enquanto isso, Lula e Haddad correm contra o tempo para recuperar a popularidade do governo, que caiu significativamente. A prioridade agora é encontrar medidas para reduzir o custo dos alimentos, evidenciada pelo avanço do IPCA-15 para 4,50% na sexta-feira. O espaço para articulação é delicado, pois qualquer sugestão de novos gastos, como subsídios, pode provocar uma reação negativa do mercado, que já está altamente sensível ao cenário fiscal. Além disso, a reunião do Copom na quarta-feira será a primeira de Galípolo como presidente. Um aumento de 1 ponto percentual na Selic para 13,25% é garantido, e a grande questão é a orientação futura para a reunião de maio. Se um novo aumento for confirmado em maio, os mercados podem precificar uma Selic terminal ainda mais alta, levando os ativos brasileiros a reagirem de acordo.
Dólar (USD)
A inauguração de Donald Trump e alguns dados de atividade econômica mais fracos foram suficientes para ajudar a recuperação de quase todas as moedas do mundo em relação ao dólar. Os temores relacionados às tarifas impostas por Trump continuam a ser o principal motor dos mercados de câmbio. Até o momento, as ordens executivas não resultaram em aumentos tarifários, o que ajudou a acalmar os ânimos, assim como as indicações de que as tarifas comerciais sobre a China não ultrapassarão 10%. Nesta semana, a reunião do banco central americano pode ser ignorada pelos mercados, que aguardam a data sugerida por Trump (1º de fevereiro) para o início das tarifas sobre o México e o Canadá. Os mercados futuros atribuem efetivamente nenhuma chance a uma nova redução das taxas de juros na quarta-feira, e nós concordamos plenamente. Por ora, a política monetária deve adotar uma abordagem paciente, à espera de mais detalhes sobre os planos tarifários e tributários de Trump.
Euro (EUR)
O euro conseguiu resistir relativamente bem à liquidação do dólar após a moderação nas tarifas de Trump, já que a região permanece, até o momento, isenta das restrições comerciais dos EUA. Além disso, alguns dados econômicos melhores do que o esperado ajudaram a dissipar o pessimismo em relação ao desempenho do bloco comum. Os índices PMI registraram uma melhora na semana passada, sinalizando níveis modestos de crescimento pela primeira vez desde agosto do ano passado. A chave para o euro nesta semana será a reunião do Banco Central Europeu na quinta-feira. Como outro corte nas taxas é esperado e já está totalmente precificado, estaremos atentos aos comunicados do Conselho e à coletiva de imprensa da presidente Lagarde para obter indícios sobre o que os membros do BCE consideram um nível terminal provável para as taxas de juros neste ciclo de cortes.
Libra Esterlina (GBP)
O fluxo de notícias macroeconômicas tornou-se positivo para a libra esterlina na semana passada. Um relatório sólido sobre o mercado de trabalho foi seguido por um aumento encorajador nos PMIs da atividade comercial de janeiro. Tanto o índice de manufatura quanto o de serviços registraram ganhos, e o índice composto agora é consistente com um crescimento sólido, embora não espetacular.
A libra reagiu bem às notícias, registrando fortes ganhos em relação a todas as moedas do G10, terminando no topo da tabela de desempenho cambial da semana. Uma avaliação atraente, a perspectiva de um melhor relacionamento com a União Europeia e o relativo isolamento da ameaça das tarifas de Trump são pontos positivos significativos para a libra nesses níveis. No entanto, os riscos de queda permanecem, principalmente a ameaça de uma piora nas condições do mercado de trabalho após os aumentos de impostos. De fato, os detalhes das pesquisas do PMI mostraram que as empresas agora estão cortando postos de trabalho no ritmo mais rápido desde a crise financeira global, uma vez excluído o período de pandemia.
Yuan chinês (CNY)
A semana passada foi uma das mais interessantes para o yuan nos últimos tempos devido à esperança de que a relação entre os EUA e a China possa não ser tão instável quanto se temia, após o telefonema entre Trump e Xi no fim de semana anterior e os comentários do presidente dos EUA, que afirmou que “preferiria não” usar tarifas contra a maior economia da Ásia.
Embora o que foi dito acima não confirme que as tarifas não ocorrerão, parece provável que quaisquer taxas de importação sejam muito menos onerosas do que aquelas mencionadas durante a campanha de Trump. Um dia após sua posse, Trump ameaçou impor uma taxa de apenas 10% sobre as importações chinesas a partir de 1º de fevereiro, nem de longe tão significativa quanto os 60% que ele havia ameaçado anteriormente. O tema das relações entre os EUA e a China deve continuar a ser crucial para o yuan no curto prazo, principalmente com o início das comemorações do Ano Novo Lunar na China na quarta-feira, que marcará um período lento em termos de notícias locais e uma pausa no comércio no continente.