Dólar dispara após vitória incontestável dos Republicanos
11/11/2024A incerteza do mercado em relação às eleições nos EUA foi resolvida da maneira mais clara que se poderia imaginar, já que os republicanos venceram não apenas a disputa presidencial, mas também a Câmara e o Senado.
Embora essa resolução traga mais incertezas sobre as políticas que serão adotadas pelo segundo governo Trump, o risco de cauda temido pelos mercados (uma eleição contestada) não será um problema. Os ativos de risco pareciam comemorar esse fato com ganhos crescentes na maioria dos índices de ações, com a notável exceção dos índices europeus. As taxas de juros subiram em toda a curva devido aos temores dos instintos inflacionários de Trump. O dólar subiu acentuadamente, mas não tanto quanto seria esperado, em um sinal de que os mercados haviam precificado uma vantagem de Trump na eleição.
Com a eleição dos EUA fora do caminho, as notícias macroeconômicas voltam a ser importantes. Entretanto, seu impacto será ocasionalmente ofuscado pelas manchetes sobre as políticas do novo governo, especialmente no que diz respeito às tarifas, já que não está claro o quanto da campanha de Trump resultará em mudanças políticas reais. No entanto, os dados de inflação da próxima semana nos EUA (quarta-feira) são fundamentais. Antes disso, o relatório do mercado de trabalho do Reino Unido será acompanhado de perto, dada a incerteza adicional sobre o ritmo dos cortes do Banco da Inglaterra introduzidos pelo orçamento frouxo do Partido Trabalhista.
Real (BRL)
O real superou as expectativas e registrou grandes ganhos contra as principais moedas do mundo na semana passada, à medida que os investidores realizavam lucros enquanto a perspectiva de taxas de juros mais altas oferecia alguma segurança. O Copom elevou a taxa Selic na semana passada para 11,25%, conforme esperado; no entanto, o comunicado da reunião indicou um comitê mais cauteloso, disposto a aumentar ainda mais a taxa caso a inflação continue a subir e a política fiscal permaneça descontrolada. Entretanto, o detrator de desempenho da moeda, a incerteza fiscal, continua a impedir a valorização da moeda. O pacote de contingenciamento está sendo elaborado e, na melhor das hipóteses, será anunciado ainda nesta semana. Enquanto isso, a ata do Copom, que será divulgada na terça-feira, deve fornecer mais informações sobre a direção da política monetária.
Dólar (USD)
O dólar avançou em relação às principais moedas do mundo, antecipando o que se pode esperar de um segundo mandato de Trump. Agora que as eleições estão resolvidas, podemos voltar a focar na situação local. Esperamos que isso tenha começado na última quinta-feira, com a reunião do banco central dos EUA, na qual as taxas foram reduzidas em 25 pontos-base, como esperado. O presidente Powell ofereceu pouca orientação futura, o que é razoável, dada a incerteza sobre as políticas do novo governo Trump. O resultado da eleição deve significar uma reavaliação geral para cima das taxas de juros, e o relatório de inflação desta quarta-feira ganha importância adicional. Uma surpresa positiva, mesmo antes de as políticas inflacionárias de Trump começarem a ser sentidas, não seria bem-vinda pelos mercados de títulos e reforçaria ainda mais a narrativa de que os cortes adicionais em 2025 provavelmente serão muito graduais, o que poderia resultar em uma força adicional para a moeda americana.
Euro (EUR)
O euro enfrentou uma desvalorização mais acentuada do que quase todas as principais moedas em resposta à notícia da vitória de Trump. A perspectiva de tarifas sobre os maiores mercados de exportação da União Europeia surge em um momento delicado para a economia da Zona do Euro. Embora os números de crescimento do PIB do terceiro trimestre tenham superado as expectativas, os indicadores mais recentes, como as pesquisas do PMI, sugerem que uma estagnação pode estar a caminho no quarto trimestre. Os diferenciais crescentes nas taxas de juros também aumentam a pressão sobre o euro, embora, nos níveis atuais, muitas notícias negativas já estejam precificadas. Nesta semana, há poucos dados ou palestrantes do Banco Central Europeu, o que deve manter a negociação do euro sensível, especialmente a notícias sobre tarifas dos EUA. Em outra nota, a turbulência política na Alemanha, com as eleições federais se aproximando, também pode impactar o cenário econômico europeu.
Libra Esterlina (GBP)
A libra esterlina se manteve relativamente bem após a vitória eleitoral de Donald Trump e, em um determinado momento na quinta-feira, havia recuperado quase todas as perdas do dia anterior. Vemos isso como resultado do relativo isolamento da economia do Reino Unido em relação ao resto do mundo, especialmente por sua falta de dependência da demanda da China. As consequências do orçamento de outono, mais frouxo do que o esperado, continuam a repercutir nos mercados, embora pareça que os títulos de renda fixa tenham se estabilizado por enquanto, depois de terem sido vendidos no início.
O Banco da Inglaterra fez uma avaliação bastante agressiva na quinta-feira. A taxa básica de juros foi cortada em mais 25 pontos-base em uma votação dividida em 8 a 1, e o banco elevou suas previsões de inflação e crescimento de curto prazo, citando explicitamente o impacto do orçamento. Os participantes do mercado entenderam que isso significa que os cortes adicionais serão mais graduais do que se esperava anteriormente, e os swaps estão precificando apenas duas reduções adicionais das taxas do Reino Unido nos próximos doze meses.
Yuan chinês (CNY)
O yuan foi uma das principais vítimas dos resultados das eleições da semana passada nos EUA. Será difícil mapear a relação entre os EUA e a China por algum tempo, mas os investidores estão se preparando para um ambiente mais hostil, principalmente em relação ao comércio. Dados como o relatório comercial explosivo da semana passada, que mostrou um aumento anual de 12,7% nas exportações chinesas, nos lembram que o país tem um enorme superávit comercial com o mundo (e com os EUA), o que não agradará muito ao governo Trump. As autoridades adotaram novas medidas para ajudar a economia, que em breve terá de lidar com uma ameaça tarifária significativa. Um anúncio importante é o pacote de dívida de 10 trilhões de yuans (US$ 1,4 trilhão) para os governos locais, anunciado na sexta-feira. Embora a troca de dívidas ocultas por dívidas oficiais seja uma medida positiva que ajudará a economizar custos, ninguém a considera um divisor de águas, e os investidores novamente ficaram esperando por mais. Esta semana trará uma série de divulgações econômicas importantes, que serão acompanhadas de perto para avaliar a situação atual, com a divulgação dos dados de outubro programada para quinta-feira.